A ideologia partidária no financiamento eleitoral feminino nas eleições para a Câmara dos Deputados (2018 e 2022)
Resumo
Este estudo analisou a relação entre financiamento eleitoral feminino e ideologia partidária no Brasil com base nas eleições para a Câmara dos Deputados de 2018 e 2022. Testamos a hipótese de que partidos de esquerda concentram mais recursos em candidaturas femininas do que partidos de centro e de direita, a partir de dados de candidaturas aptas coletados do portal aberto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Agrupamos os partidos por ideologia por uma adaptação da classificação proposta por Bolognesi, Ribeiro e Codato (2023) e examinamos os dados por meio de testes estatísticos não paramétricos como Kruskal-Wallis e Mann-Whitney. A análise rejeitou a hipótese, revelando que partidos de centro concentraram em média mais recursos em candidaturas femininas do que partidos de esquerda e de direita, especialmente no ciclo eleitoral de 2022. Os resultados sugerem que partidos de centro e, em menor proporção, os de esquerda, são mais responsivos às demandas legais e sociais por inclusão de gênero no financiamento, enquanto partidos de direita mostram alguma resistência. Destacamos o potencial das legendas na limitação ou propulsão do financiamento eleitoral feminino e sugerimos que, em conjunto às cotas legais, as dinâmicas intrapartidárias são determinantes para uma mudança nas barreiras da representação de gênero.
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